quinta-feira, 20 de março de 2014

Bandido bom é bandido morto? uma pequena e antiga experiencia pessoal minha.

Então, eu vi uma postagem daquela página do facebook “Ruth Shererazade” sobre uma moça que, de fato, pegou o “marginalzinho” e levou para casa. Em resumo a moça foi assaltada, a policia viu, ela evitou que ele fosse espancado e acabou levando ele pra casa. Ao chegar na casa do assaltante, acabou descobrindo que ele tinha filhas com HIV e uma mãe dependente de crack(link: https://www.facebook.com/RuthSheherazade/photos/a.456318524469703.1073741828.456269034474652/469459709822251/?type=1&theater) . 
Essa situação acabou me lembrando de algo que aconteceu comigo, em que eu não cheguei tão longe quanto esta mulher, mas serviu para que eu mantivesse, até hoje, a opinião que eu tenho formada sobre “bandidos”, “direitos humanos” e etc.

Eu devia estar na oitava série, eu era um rapaz gordinho que ia para a escola do bairro a pé, sempre tomando uma garrafinha de 600 ml ou 1 lt de coca cola (é, eu sei, eu vou acabar morrendo cedo). Nisso, quando eu estava atravessando a rua eu vi um cara sentado na calçada, obviamente machucado no peito com alguma ferida que ele tava tapando com a mão esquerda, e com uma feição péssima. Eu ia passar direto, mas ele acabou me chamando logo que eu passei por ele.

“Eeeei eeei, me dá um gole aí dessa tua coca”

Na hora me passou pela cabeça continuar andando, mas eu acabei decidindo que ia sim dar um gole para ele. Cheguei perto e pude ver que, além da ferida que ele estava tapando por cima da camiseta ensanguentada, ele tinha o rosto cheio de feridas já cicatrizadas e o joelho ralado, e pela primeira vez percebi um volume incomum na cintura do short dele (que eu só fui pensar que devia ser uma arma mais tarde naquele dia). Ele pegou o refrigerante e deu uns goles com bastante vontade, e me devolveu a garrafa. Olhei para ele e ele me deu um sorriso agradecido, perguntei para ele se ele ia ficar por ali, e ele disse que tava esperando um pessoal levar ele dali. Perguntei se eles iam demorar muito e ele disse que não. Naquela hora eu já tinha ligado os pontos que aquele cara ali não devia tar fazendo algo exatamente lícito.
Até hoje não sei porque, mas eu acabei sentando na esquina, meio afastado dele. De fato não demorou muito para aparecerem outros 2 sujeitos, que se vestiam de forma tão humilde quanto o carinha machucado. Eles olharam primeiro pra mim com um olhar meio hostil, e eu levantei na hora , pronto pra ir embora. Depois olharam para o “amigo” machucado no chão, não sei que sinal ele fez (ele não falou nada) mas logo depois pararam de me olhar de cara feia.
Cada um deles psegurou o homem ferido por um dos braços, e eu pude ver a parte machucada no peito que ele estava escondendo, sinceramente não sei dizer se tinha sido tiro ou facada, só sei que tinha bastante sangue. Já tava saindo de perto dele quando ele me chamou mais uma vez.

“Ei menino da coca cola”
“...oi?”
“tu tá indo pra escola é?”
“to sim”
“tá certo, é a melhor coisa que tu vai fazer pra tua vida”

Esse diálogo se repete de forma nítida na minha memória, e eu jamais vou esquecer dele. Nunca mais vi especificamente esse homem, ele pode estar vivo ou morto, eu espero de verdade que ele esteja bem.

Contei tudo isso pra que?

É claro que a gente se irrita quando é assaltado, dá vontade mesmo de meter um chute em quem rouba as suas coisas. Mas é necessário que tenhamos um pouco mais de empatia pelo próximo, na vida nada é preto no branco, e criamos um sistema desigual que propicia que muitas pessoas, no desespero, sigam pelo caminho da criminalidade. Alguns deles viram assaltantes, outros se prostituem, outros ainda participam do tráfico de drogas.

Precisamos desconstruir a ideia de que as pessoas assaltam por maldade (ou até que são pobres porque querem) e lembrar que estamos falando de seres humanos que, complexos como são, não podem ser divididos entre mocinhos e vilões, como fazem em histórias em quadrinhos de roteiro ruim.
Sabe porque a ala conservadora da classe média é contra “direitos humanos para bandido”? Porque fica fácil desfrutar dos próprios privilégios quando se ignora que existem pessoas em condições piores. Afinal de contas, eu não me importo se o cara que me assaltou está vivendo em condições sub-humanas na prisão, ele não é humano mesmo, né?Como canta, brilhantemente, o músico brasileiro Max Gonzaga:


“é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida”

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Lulu e Tubby

Bem vamos lá, não tenho todo o tempo do mundo que eu tinha antes, mas acho que não pude evitar fazer um comentário sobre essa nova onda de aplicativos de avaliar as pessoas do sexo oposto.

Bem, vocês tem facebook, sabem muito bem do que eu estou falando. Mês passado começou a bombar o tal do lulu, um aplicativo que só as meninas tem acesso, e elas podem avaliar anonimamente todos os rapazes que possuem uma conta no facebook (você tá automaticamente lá, se quiser sair tem que entrar lá e dizer que quer sair) baseado em atributos como inteligência, performance sexual, simpatia, esse tipo de coisa. Se eu não me engano elas fazem um questionário que gera uma nota de 4 à 10 e depois aparecem umas hashtags pré definidas que dá pra escolher.

As Hashtags variam de coisas “boas” como “#puxaassuntocomomeupai”” #escrevebem” “#trespernas” “#mãosfortes” até umas “ruins” como “#esqueceacarteira” “#maisbaratoquepãonachapa” “#sópensa naquilo” “#lerdo”.

Enfim, é isso.

Aí começou o burburinho nas redes sociais, um monte de cara reclamando que isso era difamação, que isso era crime, que era invasão de privacidade, que isso, que aquilo. Meninas Feministas dizendo que o aplicativo fazia os homens sentirem na pele um pouco do que elas sentem todos os dias sendo julgadas no meio da rua e em mesas de bar, e que o aplicativo era um intrumento de empoderamento feminino.
Também tinham homens e mulheres falando sobre como as pessoas estão ficando cada vez mais superficiais, citando aquele autor que fala de “amor líquido”, citando a bíblia, dizendo que o fim tá chegando. Aquele velho e bom “olhem para mim, olha como eu sou uma pessoa de bem que ainda acredita nos bons costumes” que gostam de fazer na timeline das redes sociais.

    O que eu acho do Lulu? Sou completamente indiferente à sua existência.

Como um amigo meu mesmo disse, o lulu dá uma nota objetiva (numérica) para coisas que deveriam ser subjetivas, antes se as meninas pudessem dar elas mesmas as notas, seria menos artificial. Aquelas avaliações não condizem ,muitas vezes, nem mesmo com a opinião da pessoa que te avaliou, então não é feito para se levar como verdade absoluta. Fora que as hashtags negativas são incrivelmente bobinhas, nem acredito que teve cara que se doeu e processou o lulu por causa de #maisbaratoquepaonachapa.

E numa coisa as meninas tem toda a razão quando argumentam, mulheres sabem muito melhor do que homens dessa história de serem tratadas como um tipo de produto que passa por constantes testes de qualidade. Tu pode até dizer que não faz isso, e eu também acho errado quando generalizam, mas muito homem grita na rua “Ê MULHER RABUDA. Ô LÁ EM CASA”, ou chega no bar com os amigos para chamar tal mulher de rodada e tal mulher de puta.

Tudo bem que as meninas já conversam entre si para falar dos caras que elas ficam ou querem ficar, não vamos dizer que isso não acontece porque já me falaram que acontece sim. A questão é que, até onde eu sei, as meninas costumam ter uma aceitação melhor de coisas que homens não sabem aceitar tão bem, o que provavelmente é fruto da nossa sociedade machista, que julga que algumas atitudes só são corretas quando são feitas por um sexo, quando na verdade todo mundo deveria ter o direito de fazer o que quiser com a própria vida sem precisar ser estigmatizado. E a gente sabe que na nossa sociedade, infelizmente, mulheres entendem de limitações e estigmas muito mais do que os homens.




Então quando eu vejo homem ficando tipo muito puto com esse negócio, no sentido de sentir que teve a honra manchada, que isso é invasão de privacidade, que a vida dele pode acabar por ter sido chamado de #maisbaratoquepãonachapa, eu não posso evitar que surja na minha cabeça essa imagem:



Agora ouvi umas pessoas falando sobre empoderamento feminino, que esse aplicativo dava voz e força paras as mulheres. Eu não acho que seja tudo isso, talvez eu ache justamente por não ser uma mulher e portanto não tenho muita noção da realidade delas. Não tenho como dizer se é certo ou errado pensar assim, o máximo que posso dizer é a impressão que eu tenho.

“você escreveu um texto inteiro pra dizer que é indiferente laércio?”

Não, eu nem ia falar  justamente por ser indiferente. Mas aí surgiu o tal do aplicativo Tubby, que foi feito para ser “uma revanche na mesma moeda” dos homens contra o lulu.

MAS CARALHOS ESSA PORRA NÃO É NA MESMA MOEDA NEM FODENDO, O Lulu não é baseado apenas na performance sexual do cara, leva em consideração outros pontos, muitos deles nem mesmo são romanticos, por isso mesmo as meninas podem avaliar os próprios amigos. Por mais que seja superficial em vários pontos, o lulu serve mais do que para dizer se uma pessoa é boa de cama, é feito também para dizer se um cara é gente fina ou não. AGORA ESSE TUBBY JA TEM NO SLOGAN “sua vez de descobrir se ela é boa de cama”, e uma das tags que já dava para ver qual é era #engoletudo, é muito diferente, é muito mais pesado.

Fora que vivemos em uma sociedade que castra muito mais a liberdade sexual da mulher do que a do homem, o #maisbaratoquepaonachapa que eu acho bobinho e que pode no máximo virar uma piadinha por ai pode ser o #maisbarataquepaonachapa que vai fazer mais uma mulher se suicidar por não aguentar os rótulos maldosos, dessa vez feitos por pessoas sem face. É uma verdade inconveniente, mas O MACHISMO MATA! E as tags super especificas que dizem respeito à vida sexual da pessoa é uma invasão à intimidade alheia, nenhuma menina tem a obrigação que homens, sem a autorização dela, saibam tudo o que ela faz ou deixa de fazer no sexo.

Então é isso meninos, parem de chororô, levem numa boa. Se você estiver mesmo sofrendo bullying, vai lá e apaga a tua conta e seja feliz, mas pare de bancar o oprimido que isso é muito longe de ser considerado opressão. E meninas, por mais que eu ache o aplicativo bobo, não vou ser eu que vou lhes dizer o que fazer, até porque eu faço muita coisa que acho boba, mas faço porque tenho vontade, então sigam fazendo o que achem melhor.


Fica meu apelo para que todas as garotas apaguem sua conta no Tubby o mais rapido possível e que nenhum homem se preste a expor uma garota que já se relacionou antes desta forma. Lembre-se, ela confiou em você, e é por caras que quebram a confiança de mulheres todos os dias é que muitas delas odeiam e temem os homens hoje em dia, e não vou ser eu nem você que vai dizer que elas estão erradas.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

G1 e Assassins Creed, jornalismo podre! DEMOCRATIZAÇÃO E REGULAÇÃO DA MÍDIA JÁ!

O jornalismo brasileiro hegemônico é podre, e eu sou jovem demais para dizer com certeza se ele se apodreceu ou se já nasceu desse jeito, tudo o que eu posso dizer é que cada vez mais ele me revolta. Hoje um garoto de doze anos é acusado de matar os pais, a avó e a tia, e advinha só? Em menos de 24 horas já começou a pipocar manchete metendo a culpa nos jogos de videogame.


A questão é que a foto de perfil do moleque é o Ezio, que para quem não sabe é o personagem “principal” de três títulos da franquia “Assassins Creed”, cuja história é centrada na figura de Desmond Miles, que revive as memórias sangrentas de seus ancestrais, que são os membros da ordem dos  “assassinos”, que vivem em guerra com os vilões da série, os chamados “templários”. Isso foi um resumo bem tosco, mas não quero me ater nesses detalhes porque o foco do momento é outro.

O foco é o posicionamento do jornal:



Primeiro o título de uma das matérias


Suspeito de matar pais PMs usa foto de game de assassino no Facebook”


 Vamos lá, leitor, pratique um pouco a sua interpretação de texto para perceber que existem dois sentidos possíveis na expressão “game de assassino”:

A-     Game cuja história envolve assassinos

B-      Game jogado por assassinos

Logo de título, existe uma ideia escancarada que os jogos influenciam a prática de assassinato, e não me venham aqui dizendo que não foi intencional,  não sou capaz de acreditar que O PORTAL DO G1,  que pertence à rede globo, que é o maior conglomerado de empresas de mídia do BRASIL e a segunda maior rede de televisão DO MUNDO, anda contratando gente incompetente para postar matérias na web. Eu, um mero e não muito brilhante estudante de jornalismo do interior do Rio Grande do Sul, apontei uma falha em pouco menos de um minuto que toda a redação do G1 não foi capaz de consertar em duas horas (até agora).

Porque tanto chilique com o título da matéria? porque a manchete muitas vezes é a única coisa que o leitor vai ver, e É RESPONSABILIDADE DO VEÍCULO passar a mensagem da forma mais clara possível. Para mim o g1 sabe que essa manchete carrega um discurso com duplo sentido, e é exatamente isso que eles querem.

O G1 TÁ EXERCENDO UM JORNALISMO CAÇA-NÍQUEL, PORQUE ELE SABE QUE TOCAR NESSA POLÊMICA DÁ AUDIÊNCIA.

Vamos agora ao trecho onde se fala do jogo:

"Assassin’s Creed" é um jogo que mostra a visão de Desmond Miles, um barman que volta no tempo na pele de seus ancestrais. Com isso, encarna o matador Altair e se envolve na guerra entre assassinos e templários ao longo de diversos eventos históricos como as Cruzadas, o Renascimento, a Revolução Americana e, no último jogo, a disputa entre piratas durante a conquista da América. Como membro da ordem de assassinos, Miles tem a missão de dizimar a Ordem dos Templários, que iniciou uma das Cruzadas a Jerusalém.

Ok,  foi um bom resumo,  só  acho que ficou mal colocado isso que o “objetivo dos assassinos era o de dizimar os templários”, porque isso não ressaltou o fato de que os templários são lunáticos que querem construir um mundo de paz através da obediência usando uma relíquia antiga que hipnotiza as pessoas. Do jeito que ele tá explicando parece que um monte de gente de capa se entreolhou e falou “porque a gente não mata uns templários? Tamos com tempo livre mesmo”, mas essa foi a interpretação de texto que eu fiz, não leve ela totalmente a sério.


Alguém já tinha me falado  isso, então eu fui procurar, o game do assassins creed é baseado em uma seita islâmica do século XI, denominada Ordem dos assassinos. Só que assassino, nesse caso, procurando a etimologia da palavra, não é no sentido de “matador”, o termo vem de “assass”, que em árabe faz menção aos fundamentos  da fé islâmica. Hassan-i Sabbah Gostava de chamar seus discípulos de “Asasyun”, ou seja, pessoas fiéis a “Asas”, que significa fundação da fé. (o artigo da Wikipédia sobre “ordem dos assassinos explica isso melhor)

PORRA GENTE, eu procurei “origem assassins creed” no Google e em menos de 30 segundos eu pude descobrir que o jogo é baseado em uma seita religiosa, será mesmo que um jornalista de uma grande empresa não poderia se dar ao trabalho de fazer a mesma coisa?


Não tenho muito tempo para escrever e vou me ater a esses comentários. Quem acompanha a mídia sabe quais serão os desdobramentos desse caso, posso prever mais e mais manchetes desse tipo, inclusive relembrando outros fatos onde os games foram colocados como culpados por crimes (SÃO MUITOS). A imprensa Brasileira é previsível, previsivelmente podre.


Acho que muitos de vocês já leram um texto mal escrito meu do passado, mas não custa repetir a minha opinião sobre a polemica de jogos e violencia:


Mentes capazes de cometer atrocidades sempre existiram, mesmo antes de inventarem videogames, se  estes não se influenciassem por jogos,  certamente seriam por outra coisa. Porque o discurso violento capaz de  alimentar mentes distorcidas sempre existiu, em todas as sociedades.
E é por causa dessa atitude completamente descompromissada com a verdade por parte de um grande veículo de comunicação que EU SOU A FAVOR DA DEMOCRATIZAÇÃO E REGULAÇÃO DA MÍDIA NO BRASIL, segue aqui o link para você saber mais da campanha:



http://www.paraexpressaraliberdade.org.br/
Aqui você fica por dentro das propostas, da agenda da campanha e tudo o mais, APOIE!!!!!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ensaio sobre Mídia de massa e globalização.


Que tem uma coisa errada com o Brasil todo mundo já sabe desde antes da onda de “#obrasilacordou”, é de senso comum também que não é apenas o nosso país que tá desviado do caminho certo, e a parte engraçada é que a maioria dos lugares está errada mais ou menos pelas mesmas razões.

Antes de continuar, queria deixar claro que eu não vou me aprofundar nos motivos da situação atual, nem propor nenhum tipo de coisa nova, porque iria delongar muito o texto. Mas acho que todos sabem pelo menos  uns cinco motivos para ficar revoltado, e que por mais que ninguém saiba qual é a direção certa, dá pra ver que não é essa.

Dizem que as coisas só estão assim por culpa do povo que não se manifesta, e que o povo só se acomoda  porque é alineado, e que quem os aliena são justamente os meios de comunicação e entretenimento, os agentes da famosa ~mídia~. Por mais que seja um raciocínio cru, se encaixa muito bem em quase todos os graus de interação “indíviduo-Meios de comunicação”, desde um programa de rádio de cidade pequena até os mais famosos blockbusters. A verdade é essa: a mídia, seja para informar ou para divertir, tem um forte impacto na opinião pública (inclusive para fazer com que ela não tenha opinião nenhuma)

Desde o surgimento da televisão que o mundo viveu o que hoje conhecemos como globalização, que se consolidou de vez na queda do muro de Berlim e que hoje está mais forte do que nunca. Basicamente se criou a ideia de uma “cultura global”, que se fazia presente em todos os países, subjulgando os costumes locais. O Brasil e todos os países de terceiro mundo ou “em desenvolvimento” se comportaram semelhante a um índio que aceita a catequese de bom grado. Nós jovens percebemos isso bem mais no âmbito da música, das outras artes e do “estilo”,  mas não foram só essas coisas que sofreram mudanças, pararam de existir grandes diferenças entre modelos políticos e econômicos, e os países que tentam resistir à essa nova lógica são sumariamente boicotados (Alô cuba, Alô china, Alô países “terroristas”)

Com toda essa uniformidade entre os lugares, torna-se  muito complicado pensar em grandes mudanças, justamente porque se criou a ilusão de que as coisas são assim no mundo todo e que por isso o modelo imposto deve ser o mais sensato (Quem nunca ouviu aquele amigo dizer “se o socialismo fosse bom a União Soviética tinha ganhado a guerra fria”). Criou-se a ilusão de que todos os problemas do mundo estão enraizados ou são grandes demais, e uniformidades ridículas chegam a ser aceitadas, como a célebre máxima “todo bandido é corrupto”, que só serve para as pessoas se desinteressarem ainda mais pela política do próprio país.

Ok, já me aprofundei mais do que gostaria, a questão que eu quero chegar é: O povo é acomodado pela mídia e a mídia segue uma lógica globalizada. Então podemos dizer que a globalização é a causa de muitos problemas?

Sim, ela é a causa de muitos problemas, mas também pode ser a solução.

Todos os teóricos do começo do século passado eram pessimistas com os meios de comunicação (Vide Adorno, Walter Benjamim e todos os tiozinhos de Frankfurt)  e pessimistas com razão, afinal de contas, o contexto que eles viviam era da apropriação fascista dos instrumentos de informação e de entretenimento, e vemos através do olhar deles o quanto a mídia pode ser podre. Os meios de comunicação do século passado podiam ser considerados grandes impérios de donos da verdade, a televisão então nem se discute, moldou e manipulou a opinião de tanta gente que a maioria dos intelectuais a detesta.

Aí veio a globalização, e logo depois a internet, o que mudou?

A internet facilitou que o discurso hegemônico alcançasse os quatro cantos da terra, verdade, mas do mesmo modo que ela fez isso, também deu aos opositores uma voz que eles nunca tiveram. Mesmo que ainda tenha, a exigência financeira para se publicar uma ideia na internet é muito menor do que a mesma para um jornal ou para a televisão, que estão à serviço muitas vezes dos grandes empresários. Eu mesmo que sou um completo ferrado tenho condições de escrever isso aqui e ainda por cima publicar gratuitamente para os meus seguidores.

 A mesma globalização que abriu as portas para que viessem estranhos arrancar a nossa individualidade cultural deixou essas mesmas portas escancaradas para que gritemos pro mundo todo que esse tipo de atitude é foda. Henry Jenkins se apropriou dessa ideia quando criou o conceito de cultura de convergência, onde o receptor tem amplo poder de feedback aos conteúdos que lhe são passados, e que todos podem ser produtores de conteúdo (é mais que isso, mas resumi para vocês)


Não vou ser ingênuo, as ideias hegemônicas ainda gritam mais alto, mas a grande diferença é que todo mundo agora pode gritar também. Vamos fazer barulho juntos, e nem precisa ser a mesma coisa, só precisa ser diferente do que nos é apresentado aqui. É preferível que o mundo todo possua modelos diferentes de sociedade, para termos parâmetros para saber qual deles é o  mais sensato. Acredito Veementemente que não existem respostas e nem soluções absolutas para nada, mas se existisse, pode ter certeza que não é essa que a gente tá vivendo.


terça-feira, 9 de julho de 2013

FRIENDZONE NÃO EXISTE!

Friendzone tá na moda agora, pelo menos eu ando vendo mais gente falando sobre isso.

O conceito é simples, o cara (geralmente o cara) gosta muito de uma menina, mas ela não consegue ver o quanto ele é boa praça e o coloca na TERRÍVEL zona da amizade, onde ele é obrigado a não ficar com ela enquanto assiste um monte de caras não tão legais quanto ele tendo a chance. Esse é um problema que aflige praticamente todos os “caras legais” do mundo, porque mulher só dá valor pra babaca pegador.

Me pergunto se as pessoas que ficam chorando tanto por causa da tal zona da amizade já pararam por um instante para perceber a lógica desse raciocínio, ou a falta dela. Pra começo de conversa, quem foi que disse que você é um cara legal? Você mesmo? E o quanto você conhece os outros caras que se aproximam dela para saber a índole deles?

Mais ainda, porque nessas imagens de friendzone as meninas sempre são ou demonizadas ou imbecilizadas? Quero dizer, ou a menina é cruel, ou ela é fútil e só liga pras aparências (claro, porque todo menino nessa situação é o próprio messias por dentro) ou ela é só burra por não perceber o cavaleiro numa armadura dourada que está ali esperando por ela. Sim, pois na cabeça das pessoas que defendem isso, toda menina é uma donzela que precisa ser resgatada.

Ao invés de pensar que a menina é má por só querer ser sua amiga, porque você não pensa se não foi você que se aproximou e foi legal com o único objetivo de pegá-la? Cara, a garota não tem culpa de não sentir atração por ti, mulher não é uma máquina automática que tu coloca a ficha e sai sexo como uma latinha de refrigerante.

Aliás,  não vou nem falar de sexo, como quase todo “cara legal” é metido a Don Juan  super romântico, deveria entender que relacionamentos  também envolvem amizade, e que ser muito amigo de uma pessoa não impede que vocês tenham algo mais, não existe troca, existe uma soma. Enquanto você tratar mulheres como donzelas que precisam ser sempre cuidadas para tomar boas decisões, nunca vai ter a oportunidade de viver uma relação adulta e saudável com ninguém. Se você já se relaciona com uma pessoa com o intuito de “pegar”, é porque você nem a ama para começo de conversa, e se você só pensa no físico, no que isso te difere dos supostos "caras fúteis" que ela se relaciona?  


E não to negando que existam desilusões amorosas,  se desiludir faz parte da vida e ajuda no crescimento pessoal, e é exatamente por isso que devemos aprender a sofrer como adultos. Não culpe ninguém por aquele romance que só ficou na sua cabeça, não tem quem culpar, nem você mesmo, essas coisas acontecem o tempo todo. Nem sempre tem a ver com o quanto você é legal, existe uma série de fatores que fazem uma pessoa se interessar por outra, mas se você quer um conselho: não importa o sexo, ninguém gosta de uma pessoa infantil que bota a culpa de tudo nos outros.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Um texto sobre essas manifestações.

Fonte: Folha de São Paulo

Passei a semana inteira com a mão coçando para escrever isso, mas achei sensato primeiro ir em alguma das manifestações para não dizer nenhuma asneira (ou pelo menos evitar ao máximo).

Acho que você que está lendo já sabe do assunto que esse texto trata, mas vou tentar dar um resumo bem prático:

O movimento passe livre, que começou os protestos, já existe à cerca de oito anos com um número estimado de quarenta militantes, e se fez conhecido por bloquear diversas vezes ruas importantes das grandes cidades, além de liberar catracas aos passageiros. Nos últimos tempos (mais precisamente nesse mês) o grupo ganhou intensa notoriedade nas redes sociais E NAS RUAS , devido à forte repressão policial em alguns protestos, hoje os líderes do movimento já admitem que as manifestações adquiriram vida própria e que  não querem tomar a frente delas.

Então, pelo que eu sei e me corrijam se eu estiver errado, o movimento começou humilde mas ganhou centenas de milhares de adeptos devido à violência policial que foi registrada.

Hoje o que vemos nas ruas não é exatamente o passe livre, é um movimento generalizado de insatisfação sobre qualquer coisa, tu olha ao redor e vê gente reclamando do preço do ônibus, do marco Feliciano, da legalização da maconha, da Dilma, da copa, da violência. Hoje em pelotas nenhum “grito de guerra” (que não fosse o clássico “vem pra rua vem” ou “sem vandalismo”) conseguia contagiar toda a multidão por muito tempo, porque a demanda de assuntos era muito grande, e a ideologia das pessoas também era muito diferente.

Primeiro, é MUITO BONITO ver a juventude reunida em massa nas ruas, bonito mesmo, fora algumas pessoas que estavam obviamente para passar o tempo/aparecer, tu sentia que ali tinha gente interessada em mudar o destino do país:

PORÉM, GOSTARIA DE USAR O TEXTO PARA DIVIDIR ALGUMAS COISAS QUE ME INCOMODARAM.
No começo do movimento a mídia caiu em cima chamando os manifestantes de baderneiros, dizendo que a polícia deveria ser ainda mais rígida com eles e tudo mais, em algum momento, ela descaradamente mudou de lado, vi em algum lugar que o editorial da folha de são Paulo simplesmente inverteu de opinião de um dia pro outro. Sei que teve gente que atribuiu essa mudança ao fato de vários jornalistas terem sido agredidos, mas eu não acho que os empresários por trás da imprensa tenham se compadecido dos “peões” que estão lá no meio bagunça, se não fosse da intenção deles mudar de lado, aposto que iam espalhar por aí que todos os tiros foram acidentais. (Claro, pode ser que ela tenha simplesmente mudado para o lado que tá dando mais lucro, mas sei lá)

Também, quem foi que instituiu que bandeiras de partido são proibidas? Esse povinho de direita, que sempre foi café com leite quando o assunto era ir pra rua, resolveu se engajar (o que é bom) e agora quer mandar e desmandar em um movimento que deveria ser livre (o que é péssimo.). Percebam a contradição, se o movimento é apartidário, significa que ele, como um todo, não possui ideologia política bem definida, o que não impede que cada indivíduo levante a sua própria bandeira e siga suas próprias ideias, quando uma pessoa é proibida de levantar a bandeira ou o cartaz que for, deixa de ser apartidarismo e vira anti-partidarismo, que pra mim é partidarismo de direita enrustido! E outra coisa, esse negócio de que “não deveria ter bandeira de partido, a única bandeira que deveria ser levantada é a bandeira do Brasil” me cheira muito errado,  ufanismo e esse nacionalismo babaca me lembra sabe o que? DITADURA. (Soube por uma amiga que queimaram até a bandeira do movimento negro, porra!)

E aí vamos inevitavelmente chegar nessa questão: O Brasil acordou?

NÃO CARA, NÃO! O BRASIL NÃO ACORDOU. Tu pode dizer pra mim que milhares de pessoas acordaram, que a mídia acordou, que o mundo abriu os olhos pra cá, mas dizer que o Brasil como um todo acordou é uma falta de  respeito aos vários movimentos sociais que ocorreram no país. Vamo enumerar aí: Marcha das vadias, greves de trabalhadores no geral (que a opinião pública adorava dizer que era “vagabundagem”), marchas contra o marco Feliciano, contra o renam Calheiros. E eu sei só isso porque sou tremendamente mal informado, existem bem mais, achar que o Brasil só acordou porque você chegou aos 45 do segundo tempo é muita prepotência, não acha?

Lembro que eu tinha reclamado no fórum do facebook das ideias de colocar em foco os assuntos feministas (estatuto do nascituro, fora Feliciano , essas coisas) eu acreditava que, como esses assuntos não iam ter unanimidade de ideias com todos, só ia servir pra gerar discórdia e discussão, e que precisávamos ficar unidos e tudo o mais. Só que agora a minha opinião é outra, se tem “coxinha”  usando esse momento pra ter a voz que nunca teve pra propagar porcaria, e ainda por cima querendo calar a voz de quem já estava lá a mais tempo, deve-se aproveitar o mesmo ambiente para propagar o discurso “correto”, porque é melhor uma manifestação desunida do que uma manifestação guiada para a direção errada!

Claro, não vamos ser infantis, boa parte das dezenas de milhares de pessoas que estão ali não tá nessa “guerrinha” direita X esquerda. O movimento é constituído em sua maioria de pessoas sem a menor preferência política, que estão nos primeiros movimentos e não sabem que direção seguir daqui pra frente, e é por isso que a gente não pode deixar as pessoas erradas “educarem” essa massa, imagina se convence toda aquela galera que a gente precisa voltar à ditadura militar? (aparentemente existiram cartazes clamando a volta dos militares mesmo)

Quanto ao vandalismo, eu me divido em opinião. Quero dizer, de um lado eu não acho que faz o meu estilo, e também acredito que quebrar o carro de um civil ou de uma emissora de televisão não vai fazer nenhum problema se resolver mais rápido. Por outro lado, se fossem uns protestos 100% inofensivos de gente dando as mãos e que saísse deixando tudo intacto, não acho que teria a força que tem hoje (a maior parte dos governos já diminuiu o preço das passagens e tudo mais).

Só um adendo: pelamordedeus pessoal, eu não quero mais ouvir ninguém dizendo que “todo policial é filho da puta”, porque ouvi bastante hoje, talvez a instituição “polícia militar” seja de fato uma desgraçada, mas aquelas pessoas ali estão obedecendo ordens, e tem famílias pra sustentar, são tão explorados pelo estado quanto nós, mas respondem diretamente à ele. (claro, existe policial filho da puta, a questão é só não generalizar)

Então é isso,  deixo aqui  registrado os dois sentimentos meio conflitantes, estou feliz pelos movimentos sociais terem atingido a grande massa, é bonito ver o brilho nos olhos daquele monte de gente ali, mas também estou apreensivo de que ou essa motivação seja tão viral quanto quase tudo que começa na internet é , ou que essa “massa” seja guiada para o lado errado. Estive nesse dia de protesto e estarei nos outros, posso dizer pelo menos que EU acordei pra essa realidade, e falo por mim quando digo que não pretendo sair dela.

Não vamos apenas lutar, vamos lutar do jeito certo e pelo que é certo! Vamos aproveitar  esse embalo para realmente dar passos para frente e passar por cima de tudo e todos que quiserem nos empurrar de volta para trás.

 p.s¹- Se você usa a máscara do Guy Fawkes ou qualquer máscara do tipo, já perdeu uns cinco pontos de respeito comigo.
p.s²- Ronaldo, você é um babaca (e foda-se que é antigo, aquilo é idiotice não importa a época)
p.s³- Pelé, desculpa cara, tu é uma lenda do futebol,  mas ce também tá bancando o imbecil.


segunda-feira, 27 de maio de 2013

"Sua fonte não é confiável"

“Ah  não cara, não acredito que tu tá vindo aqui com esse tipo de fonte, não vou nem argumentar aff, isso não é fonte confiável”. Sempre que escuto/leio declarações desse tipo, me dá um profundo sentimento de vergonha alheia pela pessoa que fala.

Não me levem a mal, sei que existem realmente fontes que não são nem um pouco dignas de confiança (1bj pra veja), mas a gente não pode ignorar as informações que nos são lançadas só porque não gostamos ou não concordamos com a ideologia de onde ela vem. Quando alguém nos argumenta usando fonte duvidosa, a primeira coisa a fazer é encontrar dados concretos que refutem a colocação dela, porque senão vira uma guerrinha de “aff sua fonte não é confiável”.


Boa parte das pessoas que utilizam desse tipo de argumentação na verdade não sabe argumentar direito, ou está com preguiça. Se você não sabe ou tá com preguiça de debater, não o faça, para não passar vergonha.